quinta-feira, 30 de julho de 2009

Universidades da Terceira Idade, em contínua aprendizagem

A oferta educativa para as pessoas adultas foi madurando ao longo dos anos. Se seu principal objetivo inicial era acabar com a baixa taxa de alfabetização entre nossos maiores, hoje os esforços se centram em proporcionar-lhes uma formação mais especializada, ao longo da vida, da mão de professores universitários.
Uma tendência que parece ir ganhando peso ao mesmo ritmo que cresce a esperança de vida e à que cada vez se dedicam mais esforços, tanto econômicos como materiais. De fato, praticamente todos os países europeus contam hoje com universidades para pessoas maiores ou UTE.
A principal diferença entre estes peculiares estudantes e o resto dos alunos é que enquanto os jovens estão desejando terminar a carreira e pôr-se a trabalhar os mais adultos não querem deixar a Universidade. Inclusive alguns se propõem dar um passo mais e matricular-se nessa carreira que nunca puderam fazer.
Quanto a suas estruturas e objetivos, os programas universitários para maiores variam substancialmente segundo o país e o nome que recebem estudos: Sênior Studies, University of All Ages, Scientific Continuing Education for Older Adults e Ongoing Studies for the Elderly.
Ainda que a cada uma delas segue diferentes critérios à hora de desenvolver o programa curricular, todas têm em comum sua orientação para a formação, a investigação e o serviço à comunidade, o que dá como resultado um conjunto de atividades multidisciplinares.
A maioria destes programas não remam em solitário, senão que se encontram conectados mediante redes. As mais ativas do meio europeu são a
Associação Internacional de Universidades da Terceira Idade (AIUTA), a European Network Learning in Later Life (LILL) e a Fédération Internationale dês Associations de Personnes Agées (FIAPA).
Seu enfoque se baseia, entre outros aspectos, no desenvolvimento da pessoa, tanto a nível social como individual, com ações encaminhadas a oferecer um envelhecimento ativo, no que se estimulem tanto a mente como o bem-estar pessoal e emocional.
Todo um conjunto de atividades onde se combinam lazer, aprendizagem e autoestima, com uma ambiciosa missão: conseguir sorrisos que nunca envelhecem.

domingo, 5 de julho de 2009

Idosos têm a oportunidade de aprender ou renovar conhecimentos da língua.


Educação e Terceira Idade (ou a aprendizagem da maturidade)


Somos os sobreviventes da nossa primeira juventude,estamos de luto pelo petiz que fomos e envelhecemos sem crescer.


Pascal Bruckner


Sem querer mistificar a experiência de sensibilidade e de vulnerabilidade que acompanha o processo de envelhecimento a vários níveis, proponho-me neste texto evidenciar a ideia de que todas as etapas e momentos da vida têm os seus pontos fortes e os seus pontos fracos e que, enquanto humanos, é com isso que temos que viver. Com a consciência de que somos seres com limitações mas também, e fundamentalmente, que somos seres com infinitas possibilidades. Ora, do meu ponto de vista, um dos pontos fortes das pessoas da terceira idade, a partir do qual deve ser pensada a sua participação social, é precisamente a relação com o tempo ligada à sabedoria que é própria de uma maturidade serena.
Num mundo que perdeu os seus modelos de socialização e de comportamento, outrora considerados estáveis e seguros, a vida passou a ser encarada como uma luta constante, pelo emprego, pelo êxito pessoal e profissional, pelas condições de bem-estar da família, pela actualização permanente em termos de informação e pela posse de bens de consumo, considerados imprescindíveis à manutenção de certos padrões de vida. E tudo isto sem perder a energia, a saúde e a beleza, de acordo com o ideal de juventude requerido por uma sociedade ferozmente competitiva e narcisista. Um ideal de juventude que foi exaltado de forma excessiva pela famosa "geração de 60", precisamente aquela que agora se encontra na idade adulta. Como denuncia Pascal Bruckner, para esta geração rebelde, impaciente e sedenta de felicidade a todo o custo, a maturidade significava decadência e traição. Não confies em alguém com mais do que trinta anos, gritava um dos slogans de Maio de 68. Ou, recordando as palavras de um dos meus ídolos de juventude, o músico Jim Morrison: queremos o mundo e queremo-lo já! Não é de admirar, pois, que muitos destes slogans tenham sido progressivamente adoptados por uma sociedade consumista que exalta o imediato da fruição, obscurecendo tudo o que na vida exige paciência, tempo e maturação.
Acredito que o verdadeiro sentido da vida está muito para lá do prazer proporcionado pelas coisas do mundo. O amor à vida ganha sentido através dos encontros e dos laços que nos aproximam de outras pessoas. O mundo não é apenas a nossa casa. Nele habitaram, habitam e continuarão a habitar (pelo menos assim o desejamos) outras vidas. E é na experiência de relação, de encontro, de solidariedade e de responsabilidade em relação a essas outras vidas que se vai construindo a nossa identidade humana. E a juventude depende, isso sim, da forma como soubermos manter, em todas as etapas da vida, a disponibilidade para aprender com os outros. A juventude está ligada à hospitalidade do espírito, à disponibilidade para acolher as novidades do tempo, as surpresas da vida e o desconhecido. Mesmo quando sabemos que esse desconhecido pode até ser, naturalmente, a própria morte.
A participação social das pessoas de terceira idade pode ser potenciada nos próprios contextos e áreas de trabalho onde os adultos em questão desenvolveram a sua actividade profissional ou em contextos e áreas novas, dando expressão a desejos outros, impossíveis de realizar durante o chamado período de vida activa. Contrariando assim a experiência de uma reforma vivida como imposição impiedosa quando deveria ser encarada como um momento de liberdade, como mais um momento de liberdade neste nosso devir humano. Como momento em que a sociedade, que consumiu tanto da nossa energia e do nosso tempo, reconhece e legitima o direito de vivermos em plenitude a forma que escolhemos para continuar a exercer os nossos deveres.
Gostaria no entanto de evidenciar, de um modo particular, o contributo precioso que pode ser dado pelas pessoas da terceira idade nos territórios educativos, seja no âmbito de dinâmicas de formação escolar ou de formação extra-escolar. Citando Eduardo Prado Coelho, num universo dominado pela celeridade da informação, é preciso recuperar o sentido da sageza e da experiência que apenas as histórias nos são capazes de dar. Histórias para adormecer, histórias para comer a sopa até ao fim, histórias para seduzir (1997). E quem melhor para nos ensinar a ouvir e a contar histórias do que as pessoas da terceira idade, pessoas capazes de transmitir um conhecimento temperado pela memória do vivido, logo pela subjectividade e pela afectividade. Pode a educação dispensar estas duas dimensões tão próprias do humano?
As extraordinárias oportunidades de desenvolvimento abertas pelas novas tecnologias de nada servirão se sacrificarmos a lição que nos pode ser dada pela mão, pelo olhar, pelo gesto, pelo afecto e pela palavra de quem pode, pessoalmente, dar testemunho de uma vida, de uma experiência e de um conhecimento.
Como educadora, tenho aprendido ao longo da vida que educar é, antes de mais, uma arte de encontro e de comunicação destinada a provocar junto de outros relações positivas com a vida. Ou seja, relações positivas com as pessoas, com a história, com os espaços, com a leitura, com a escrita, com determinado ramo do saber, com a escola, com as regras da sociedade etc. Seja na infância, na adolescência ou na adultez, seja em contexto escolar ou extra-escolar, só se educa verdadeiramente quando tocamos o outro (arrisco a dizer: quando o emocionamos) ao ponto de conseguirmos despertar nele a vontade de aprender, dispondo-se a percorrer o caminho de esforço, de disciplina, de paciência, e de serenidade exigido pela aventura do conhecimento. Como nos lembra Ribeiro Dias (1998), no contexto de uma sociedade educativa, a educação tem que deixar de ser vista como preparação para a vida para passar a ser valorizada como dimensão da própria vida, o que justifica uma maior aproximação entre a educação permanente e a educação comunitária.
Os idosos precisam, e merecem, um outro olhar e uma outra atitude por parte da sociedade, mas a sociedade mais justa, mais solidária e mais humanista que desejamos para este novo século precisa também dos idosos, precisa da sua participação empenhada, da sua lição de vida e do testemunho da sua serena e sábia maturidade. Porque se é verdade, conforme diz o ditado, que a vida são dois dias e que este já conta, é igualmente verdade que a eternidade do tempo cabe em cada segundo em que nos damos inteiros e, desse modo, nos tornamos capazes de produzir e acolher acontecimentos novos.
Por tudo isto, julgo que importa hoje encontrar formas que nos permitam valorizar a participação daqueles que por terem chegado mais cedo a esta vida, podem dar testemunho de uma sabedoria assente nessa verdade tão simples, quanto esquecida: a de que a vida é um bem precioso e frágil e que mais vale viver a favor do que contra o tempo. E, também aqui, o papel dos educadores sociais é fundamental. Enquanto técnicos superiores preparados para conceber e dinamizar projectos pedagógicos com pessoas de todas as idades e numa pluralidade de contextos de trabalho, são com certeza os profissionais melhor posicionados para dar expressão prática à relação enunciada no título deste texto: Educação e Terceira Idade .
Isabel BaptistaUniversidade Portucalense
Referências Bibliográficas
Bruckner, Pascal. 1996. A Tentação da Inocência. Europa-América.
Prado Coelho, Eduardo. 1997. O Cálculo das Sombras. ASA. Porto
Ribeiro Dias, José. 1998. A Procura da Sabedoria em Educação in Actas do I Encontro Nacional de Filosofia da Educação. Univ. Minho. Braga
*O texto que aqui se publica constitui uma versão resumida da comunicação apresentada no IV Congresso Luso Espanhol "A Terceira Idade e o Mundo do Trabalho" (Porto, Nov.2000)

Autor do Artigo
Isabel Baptista
Universidade Católica, Porto





sábado, 27 de junho de 2009

Mente na Terceira Idade

Educação permanente traz bem-estar ao idoso
por Elisandra Vilella G. Sé

Até pouco tempo atrás, a universidade era espaço destinado prioritariamente aos jovens, o futuro do país. A grande demanda do envelhecimento populacional, com o aumento da longevidade, refletiu na tomada de consciência por parte dos programas educacionais, de que a educação poderia ser um processo permanente, contínuo e aberto a todas as idades, embora a universidade sempre estivesse aberta a todas as pessoas. Recentemente, a educação, sobretudo as universidades, têm dado atenção ao fenômeno do envelhecimento e à inclusão das pessoas mais velhas em seus programas de educação permanente.
A educação permanente propicia às pessoas uma adaptação social, o aprendizado contínuo e oportunidades para buscar o seu bem-estar físico e mental. Por meio da educação permanente, os programas educacionais destinados às pessoas idosas nas Universidades Abertas à Terceira Idade têm possibilitado um grande número de pessoas adultas e idosas à atualização, aquisição de novos conhecimentos, participação ativa em atividades culturais, sociais, políticas, de saúde e de lazer.
A participação de idosos nesses programas tem despertado a grande maioria dessa camada da população para a tomada de consciência do envelhecimento ativo, do alcance de um envelhecimento bem-sucedido e da boa qualidade de vida na velhice. Nos programas de educação permanente, destinados aos idosos, o trabalho em conjunto de aluno-professor, impulsiona-os para o aprendizado mútuo, recíproco, em que o professor e o aluno, juntos, dividem expectativas e ansiedades, descobrindo formas de vencer preconceitos e enfrentando desafios impostos pela sociedade às pessoas mais velhas. As Universidades Abertas à Terceira Idade foram criadas para ser um espaço destinado à educação permanente das pessoas idosas. Porém, pessoas de outras faixas etárias, como sendo da maturidade, ou seja, com idades abaixo de 60 anos, também têm participado ativamente dos programas das Universidades para a Terceira Idade, principalmente pessoas que quando jovens não tiveram acesso à Universidade, pessoas aposentadas, livres de suas responsabilidades de criação dos filhos ou do trabalho rotineiro.

Artigo sobre Educação na Terceira Idade

http://www.unati.uerj.br/tse/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-59282001000100004&lng=pt&nrm=iso


VALE A PENA LER!

Educação para respeito da terceira idade



A 'importância dos idosos'


Egle Aparecida Picolo Balançuelo


Na falta de uma lixeira, já diz o velho ditado: 'Não tem tu, vai com tu mesmo'


"As Secretarias de Estado da Educação e do Desenvolvimento Social fecharam uma parceria para que todos os alunos dos ensinos fundamental e médio recebam informações e aprendizado sobre a chamada terceira idade. Ainda este ano, os professores da rede pública estadual serão capacitados para tratar desse assunto com os alunos. O objetivo é que os estudantes aprendam a valorizar a terceira idade e saibam sobre a importância dos idosos para a sociedade".
Cabe um esclarecimento: idoso é sinônimo de aposentado. E aí, a primeira pergunta que se deve fazer é a seguinte: governo é sociedade? Se for, já surge aqui uma primeira contradição. Ninguém se importa menos com os idosos e os aposentados do que o próprio governo. Está aí um governo que, por suas ações - ou melhor, omissões - prova que não respeita os aposentados. Apesar disso, e disso conscientes, e por estarmos sempre dispostos a ajudar, a colaborar (essa eterna mania de educador!!!), gostaríamos de sugerir um conteúdo programático para esse treinamento.
Sugerimos que se exija de todos os professores a leitura das obras de Jonathan Swift, escritor inglês do século 17, autor de "As viagens de Gulliver". Dessas obras, em especial o texto em que ele descreve a solução fantástica que os habitantes de uma ilha imaginária descobriram para acabar com a pobreza: matar os pobres. Algo semelhante ao que se faz com os idosos e os aposentados no Brasil, só que aqui a coisa é mais sutil, mais disfarçada. Tratar o idoso e o aposentado daquela forma seria cruel, sem dúvida, mas também mais sincero e menos demagógico. Hoje, na verdade, parece que a maneira mais segura de melhorar a aposentadoria é morrer mais cedo.
O governo fala da importância dos idosos para a sociedade, ao mesmo tempo em que os exclui dos reajustes salariais e dos benefícios das reestruturações de carreiras, o que concorre para o seu crescente e contínuo empobrecimento. No magistério, os aposentados foram excluídos do reajuste salarial, do bônus e de todas as gratificações: por atividade de magistério, por trabalho educacional, de função e de representação. Em resumo, nega-se aos aposentados o direito a uma vida com um mínimo de qualidade. O governo que enfatiza a importância da discussão das questões sobre o envelhecimento é o mesmo que oferece aos aposentados um péssimo serviço de saúde, obrigando-os a correr para os caríssimos e proibitivos planos de saúde privada. O governo que ressalta a importância da valorização da terceira idade é o mesmo que faz o possível e o impossível para impedir ou adiar a aposentadoria dos educadores. É preciso que esse governo seja lembrado de algumas premissas básicas. Os aposentados não querem apenas reconhecimento; eles exigem respeito aos seus direitos. Os aposentados não querem ser valorizados em cursos e treinamentos; eles exigem respeito no seu dia-a-dia. Os aposentados não querem privilégios; eles exigem respeito à sua dignidade.
Enquanto essas premissas não se concretizarem, os idosos e os aposentados agradecem, mas dispensam aulas e palestras sobre sua importância, assim como as parcerias para capacitação sobre a terceira idade. Porque, nesse contexto, sabem eles que tudo isso é mera demagogia. Os aposentados sabem muito bem que, na verdade, eles não são importantes para o governo, nem são respeitados por ele. Essa perfumaria que o governo agora alardeia - uma parceria para tratar da importância do idoso - não passa de demagogia barata. Todos os recursos que serão desperdiçados com esses treinamentos, aulas e materiais deveriam ser convertidos em proventos, gratificações e bônus para os aposentados. Teriam melhor destino e uso. E, como um exemplo vale mais que mil palavras, com essa atitude o governo estaria mostrando respeito aos idosos, aos aposentados, reconhecendo e valorizando a sua importância social.